Primeira atividade - Igor Passos
Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas PPG/CEN/UnB
Disciplina: Metodologia de Pesquisa em Artes Cênicas 2 MPAC 2
Docente: Marcus Mota
Discente: Igor Passos
Matrícula: 222102325
O primeiro passo para essa atividade
foi a busca das teses. Decidi fazer esse primeiro trajeto no Portal de Teses e
Dissertações da Capes. Escolhi, ainda, essa busca a partir do marcador branquitude,
visto que minha pesquisa tem se encaminhado para uma discussão que se insere
nos Estudos da Branquitude. Essa escolha se deu, ainda, por eu não conhecer a
fundo o tema, sendo essa atividade uma oportunidade de conhecer um pouco mais
as referências e os trabalhos que estão sendo desenvolvidos no campo.
A busca resultou em 38 teses. Para
escolher as três que compõe esse comentário busquei as que mais se aproximavam
de minha área de pesquisa: a Educação. Essa escolha se deu pelo fato de, no
campo da Pedagogia do Teatro, não haver trabalhos que tratem do tema. Dentre os
resultados obtidos apenas uma tese se inseria no campo das Artes Cênicas, sendo
esta Reflexões sobre o Teatro Negro: uma análise a partir de textos teatrais
contemporâneos de autoria negra, de Julianna Rosa de Souza, mas não a
encontrei disponível na internet.
Dessa forma, as três teses
escolhidas foram: O branco ante a rebeldia do desejo: um estudo sobre a
branquitude no Brasil, de Lourenço Cardoso, defendida em 2014 na Unesp, no
Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais; Entre o “encardido”, o
“branco” e o “branquíssimo”, de Lia Vainer Schucman, defendida em 2012 na
USP, no Instituto de Psicologia e A emergência do discurso da branquitude na
legislação brasileira: racismo e educação, de Marisa Fernanda da Silva
Bueno, defendida em 2020, na Unisc, no Programa de Pós-Graduação em Educação.
a) Forma
de organização, distribuição das partes
A
tese de Lourenço Cardoso se divide em duas grandes partes, nomeadas dessa
forma, Parte I e Parte II. A primeira parte, O branco-centrismo e a rebelião
dos objetos, é estruturada em três capítulos. Nela se encontram dois deles
destinados ao referencial teórico – A construção histórica do branco-não
branco e A negritude e a humanização do branco - e um deles destinado à
metodologia – Autorreflexão: a rebeldia do desejo.
A
Parte II, Vossa excelência o branco, é estruturada em dois capítulos – O
branco dissimulado e O branco e o “não pensar em si”-, sendo esses
destinados à análise do material empírico da pesquisa. Nesses capítulos o autor
cria categorias de análise que são organizadas em seções.
Além
dos capítulos, a tese conta ainda com prefácio, conclusão, bibliografia e apêndice.
Destaco
ainda que o modo como o pesquisador nomeia os capítulos e suas seções é
inventivo, visto que ao ler, o/a leitor/a consegue criar imagens, como por exemplo,
nas sessões da análise e discussão dos resultados da pesquisa, em que
encontra-se títulos como O branco Drácula, O branco Narciso, O branco
Drácula-Narciso dissimulado de universal. Dessa forma, ao longo do texto, o
autor consegue materializar na linguagem uma imagem que condiz com sua análise,
possibilitando a quem lê uma experiência outra com o texto, no sentido de poder
tocar e perceber em seu cotidiano os efeitos daquela análise.
Já
a tese de Lia Vainer Shucman é dividida em seis capítulos, além da introdução e
das considerações finais. Os dois primeiros, Branquitude e Raça e Racismo,
trazem o referencial teórico da pesquisa. O terceiro capítulo, Percursos da
pesquisa, traça o caminho metodológico da mesma. Do quarto ao sexto
capítulo, respectivamente A construção da branquitude na cidade de São Paulo,
Aspectos psicossociais da branquitude paulistana e Fronteiras e
Hierarquias internas da branquitude, trazem a análise e discussão dos
resultados do campo empírico da pesquisa.
Os
títulos de capítulo e sessões de Shucman são diretos e objetivos, não possuindo
o tom poético/imaginativo como na tese de Lourenço Cardoso.
Por
fim, a tese de Marisa Fernanda da Silva Bueno, é organizada em três capítulos,
além da introdução e das considerações finais. Há um capítulo – As escolhas
teórico-metodológicas – que trata do caminho metodológico da tese. Frente aos
outros dois trabalhos analisados, percebo que nessa o capítulo de referencial
teórico é mais sucinto e menos aprofundado. Um capítulo de referencial teórico,
nomeado A emergência dos estudos da branquitude e suas implicações no Brasil.
E, por fim, um capítulo de análise intitulado O discurso da Branquitude na
legislação Antirracista brasileira pós-constituição da República Federativa do
Brasil de 1988.
As
três teses apresentam uma organização mais tradicional – Capítulo de
Referencial Teórico, Capítulo de Metodologia e Capítulos de análise e discussão
dos dados.
b) Metodologia
Como
metodologia, Cardoso opta, além do campo teórico, por uma pesquisa prática a partir
de entrevistas, sendo essas realizadas com doze pesquisadores brancos “especialistas
da epistemologia sobre o negro” (Cardoso, 2014, p. 128). O pesquisador
justifica essa escolha metodológica e por esses sujeitos por serem as entrevistas,
no campo da sociologia uma técnica de investigação muito útil e por serem,
também, o “procedimento mais direto e eficaz para obter as informações que
pretendia” (Cardoso, 2014, p. 128).
O
autor afirma que o roteiro das entrevistas foi elaborado com perguntas abertas
e que a análise desse material foi qualitativa. O roteiro está presente como
apêndice da tese.
No que tange o proposito da tese, creio tais
escolhas serem contundentes, visto que as entrevistas, com uma análise
qualitativa permite a apreensão e emergência das singularidades e, também, das
recorrências das falas.
Cardoso
ainda apresenta, em sua seção de metodologia, dois quadros com o descritivo dos/as
participantes da pesquisa contendo nome, sendo ele fictício, idade,
espaço cidade de origem, profissão, pertença étnico-racial,
critério, autodefinição e formação. Um dos quadros
apresenta os sujeitos que pesquisam o negro-tema e outro, os sujeitos que
pesquisam o branco-tema.
Na
sequência da sessão, o pesquisador descreve os critérios para a seleção dos/as
participantes da pesquisa. A seleção, segundo Cardoso, se deu a partir dos
seguintes critérios: “(1) que eles se autodefinissem como branco; (2) eu os
considerassem brancos; (3) e que as pessoas de forma geral os considerassem
brancos no território brasileiro, (4) além disso, que eles tivessem como objeto
de pesquisa o negro ou questão negra” (Cardoso, 2014, p. 132). É levantado,
ainda, o critério para definição de quem seria branco. O autor parte então de
três critérios: reconhecimento do próprio autor, autoidentificação dos/as participantes
da pesquisa e o reconhecimento de uma comunidade.
Shucman,
em seu capítulo metodológico, apresenta inicialmente sua trajetória em relação
ao tema de pesquisa. O capítulo é divido em seções, cada uma responsável por um
aspecto metodológico.
Como campo empírico, a pesquisadora trabalhou
com entrevistas e, também, conversas informais. A respeito das conversas informais
(que foram feitas com transeuntes da cidade de São Paulo), ela afirma que “um
dos fatores que enriqueceram esta pesquisa foram as conversas informais que tive
e ouvi com e de diversas pessoas nas ruas, nos bancos, nos bares, em casas de
amigos, etc” (Schucman, 2012, p. 51). Ao longo da explanação sobre as conversas
informais, Schucman já apresenta alguns exemplos do campo empírico, articulando
com a discussão sobre branquitude.
É
apresentada ainda, na seção sobre as entrevistas, uma tabela detalhando o
perfil dos/as sujeitos de pesquisa que participaram das entrevistas. Esse
detalhamento se dá a partir dos seguintes marcadores: nome, idade/estado civil,
cidade de origem, profissão, autodefinição de classificação socioeconômica,
autodefinição racial e cor/raça origem da (mencionados por eles).
A
pesquisadora também dedica uma seção para descrever o como foi feita a condução
da entrevista. Esse ponto me chamou a atenção, visto permite ao/à leitor/a vislumbrar
mais materialmente o trajeto feito, além de proporcionar um norteamento de
procedimento para quem está trabalhando com a mesma ferramenta metodológica.
Na
tese de Bueno, o capítulo metodológico é divido em duas partes: na primeira a
autora discute o arsenal teórico da tese. A autora se alicerça
metodologicamente ao trabalho do filósofo Michel Foucault. Já na segunda parte
é apresentado o escopo de análise, sendo esse a legislação brasileira
antirracista.
A
pesquisadora não aprofunda em como se deu essa análise, em quais foram os
mecanismos criados ou utilizados para a análise.
c)
a) Análise
da bibliografia
|
O
branco ante a rebeldia do desejo: um estudo sobre a branquitude no Brasil |
||
|
MATERIAL |
QUANTIDADE |
PORCENTAGEM |
|
Artigos |
33 |
16,75 |
|
Teses |
7 |
3,55 |
|
Dissertações |
8 |
4,06 |
|
Livros |
140 |
71,06 |
|
Sites |
9 |
4,56 |
|
Entre
o “encardido”, o “branco” e o “branquíssimo” |
||
|
MATERIAL |
QUANTIDADE |
PORCENTAGEM |
|
Artigos |
18 |
16,99 |
|
Teses |
2 |
1,85 |
|
Dissertações |
4 |
3,70 |
|
Livros |
82 |
75,92 |
|
Sites |
- |
- |
|
A
emergência do discurso da branquitude na legislação brasileira: racismo e
educação |
||
|
MATERIAL |
QUANTIDADE |
PORCENTAGEM |
|
Artigos |
24 |
22,42 |
|
Teses |
4 |
3,73 |
|
Dissertações |
5 |
4,68 |
|
Livros |
74 |
69,15 |
Percebe-se que as teses foram construídas
majoritariamente a partir de livros. Essa recorrência talvez se dê por dois
motivos: primeiro, a interdisciplinaridade presente nos trabalhos. Os três
trabalhos dialogam com diversas áreas do conhecimento, como a filosofia, a
história, a geografia, a sociologia e a psicologia. Assim, em algumas dessas
áreas a preponderância de teoria se dá através de autores/autoras que não
publicaram artigos, mas sim livros, como por exemplo Hannah Arendt e Frantz
Fanon, autora e autor citados nos três trabalhos.
Outro ponto que acredito ter levado
a essa preponderância de livros em detrimento de outras fontes é o fato de que
o tema da branquitude é pouco trabalhado dentro do circuito acadêmico e muitos
dos textos base sobre o tema em língua portuguesa se encontram em coletânea de
livros, como Branqutude: estudos sobre a identidade branca no brasil
(2017), Branquitude, identidade branca e multiculturalismo (2004) e Psicologia
Social do Racismo (2002). Reflexo disso se dá no aumento de artigos ao
longo que as teses se aproximam do presente momento e também em uma relevância
de bibliografia estrangeira no trabalho de Shucman, a mais antiga dentre as
três analisadas.
A bibliografia primária atravessa
todos os trabalhos com autoras/es como Cida Bento, Liv Sovik, Frantz Fanon,
Achille Mbembe. É interessante notar que a tese de Shucman se tornou
bibliografia para os outros trabalhos também, o que demonstra um reconhecimento
e avanço de sua pesquisa.
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